"Problema:
se a prova de que existo está nisto: neste texto em jeito desajeitado de poema,
em cada verso, cada palavra, cada fonema,
assim como está, de resto, em tudo o resto que faço,
por que preciso de outrem para ser alguém e sem isso de ninguém não passo?
Sou apenas quem me quer ser, preciso de um corpo com espaço.
Um qualquer.
O Pai Ntal é quem o Homem quiser,
pode até ser uma mulher.
Podia, por exemplo, ser agora um prosador
e discorrer neste livro sobre o dinheiro e o seu valor,
mas é Natal e, como tal, se naõ me leva a mal, leitor,
serei poeta.
Não falarei de taxas de juros nem do que isso acarreta
por causa de uma coisa que não é coisa mas é concreta:
a prosa é a língua da razão,
a poesia é a língua do coração.
É a ele portanto que falo, perdão,
é a ele qu canto. Para lembrar que há quem precise de vós,
quem mais do que pais natais com renas e trenós
precisa de pais, mães, tios, padrinhos, avós,
gente que, mesmo sem disso fazer alarde,
faça a diferença antes que se faça tarde.
Conheço uma criança que tem um sonho, posso dizer-lhe que o guarde?"
Pai Natal
Nota: Este poema foi retirado da revista "Única" do Expresso.